O Deus que vê
Agar foi uma mulher egípcia e negra, escrava de Sara, esposa de Abraão. Ao rir da promessa que Deus lhe fizera, Sara escolheu Agar para ser mãe do filho que ela não conseguiria conceber. Ao engravidar, Agar passa a ser humilhada por Sara que a expulsa de casa e vai para o deserto
A história de Agar é marcada pela dor da escravidão e pela complexidade das relações familiares.
Ela foi tratada injustamente, forçada a deixar sua casa e enfrentou dificuldades extremas no deserto, mas foi também uma mulher de fé e coragem.
Mesmo estando numa condição de escravização e humilhação, Agar é a primeira mulher a nomear Deus nas Escrituras: “Tu és o Deus que me vê” (Gn. 16:13).
Zora Neale Hurston em seu livro “Seus Olhos Viam Deus” (2021) usa uma metáfora da Angela Davis ao dizer que a mulher negra é a mula do mundo quando Nanny, avó de Janie Crawford diz:
“a mulher negra é a mula do mundo, até onde posso ver. E estou rezando para que isso seja diferente com você.”
Como se pode perceber, a observação da personagem de Hurston é, ao mesmo tempo, um lamento pelo destino das mulheres negras e o desejo por um destino diferente para sua neta.
Ao longo dos anos, as mulheres tem sofrido o que Agar sofreu: abuso de poder, abandono, humilhação, falta e amor e cuidado. As mulheres negras são as que mais morrem, as que mais sofrem violência obstétrica, as que são abandonadas por seus companheiros. São as que não tem acesso à educação, a um trabalho digno. As mulheres negras estão na base da pirâmide social.
O que nos dá Esperança em meio a tudo isso é que o mesmo Deus que viu Agar no deserto também nos vê e zela por nós.
Foi esse mesmo Deus que quebrou paradigmas ao conversar com uma samaritana. Que apareceu ressurreto primeiro às mulheres. Que as amou. Que as viu.
Minha oração é para que nesse Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha nós sintamos esse olhar amoroso e cuidadoso do Deus que nos vê.
Texto por: Adriele Martins, integrante do setor de redação do Coletivo.
