Cicatriz Invisível

O que tem no Brasil
2 min readSep 15, 2023

Se pararmos para pensar a respeito de quando a população negra brasileira tornou-se livre das agruras da escravização, certamente a Lei Áurea (1888) é a primeira coisa que trazemos à memória. Tudo parece simples, mas sabemos que o processo histórico não é dessa maneira. Cabe a nós questionarmos quais foram as permanências da escravização na nossa sociedade.

E quando falamos a respeito do impacto de 300 anos de escravização em uma sociedade que a aboliu há somente pouco mais de 100 anos — o tempo de vida de algumas pessoas que nós conhecemos -, o índice de suicídio, 45% maior entre jovens negros em relação aos brancos, nos preocupa especialmente.

Bruno Mota, Mestre em Psicologia pela UFRJ, diz que:

“A população negra vive uma espécie de estresse pós-traumático contínuo. Cada experiência de discriminação vai ativar esse estilhaço traumático e causar adoecimentos.”

Ou seja: há estruturas que perduraram ao longo desses 100 anos que até o presente nos prejudicam enquanto população negra e possuem influência nesse índice de suicídio. “Dados mostram que entre as pessoas que cometeram suicídio, dentre 50 a 70% nunca passaram por um tratamento com profissionais da saúde como psicólogos e psiquiatras. Isso se deve ao racismo estrutural e os impactos sociais e econômicos desse sistema” (diz Júlio César Santos do Instituto Luiz Gama).

Jesus disse que veio para que tivéssemos vida e vida com abundância (Jo 10.10), mas também nos chamou para cooperar na sua obra (1 Cor. 3.9). E para começarmos a colaborar enquanto corpo, precisamos dar o primeiro passo ao reconhecermos essas desigualdades estruturais que afligem homens e mulheres negras que sentam nos nossos bancos e oram conosco dominicalmente.

Só a partir daí podemos começar a refletir a respeito de como podemos atuar enquanto expressão de fé vulnerável e empática. Ou podemos seguir reproduzindo o discurso de que todos somos iguais perante Deus e por isso não faz diferença discutirmos raça, isso enquanto nós negros persistimos sendo a população que mais tira a própria vida.

Que esses parágrafos sirvam como uma motivação para que possamos começar a pensar o papel da igreja em relação à saúde mental.

Texto por Cainã Lima.

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