O que tem no Brasil
2 min readNov 29, 2021

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Em um domingo comum e tranquilo, uma família se senta em frente a TV para ver um programa de auditório. A filha mais nova está sentada no tapete, brincando com algumas bonecas, até que se vira para sua mãe e pergunta:

— Mãe, se eu lavar meu corpo com cândida, consigo clarear minha pele? — na serenidade de quem pergunta sobre as horas.

A mãe, que é branca, irrompe em risadas dizendo a ela que “deixasse de ideia”; a irmã e o cunhado também acham graça, porém seu pai, que é negro, assiste a cena em silêncio.

Mas a menina não entende o que foi tão engraçado.

Essa história aconteceu em um dos muitos domingos da minha infância. Não sei porquê ainda me lembro dele tão especificamente, mas me recordo de cada detalhe: a boneca bebê quase rosa em minhas mãos, as dançarinas do Faustão, todas esbeltas de cabelo longo e liso. Esse relato se une a muitos outros que já ouvi com o passar dos anos, de crianças negras que, ainda em sua inocência, procuravam rotas de fuga de seus próprios corpos pois de alguma forma já sabiam que o mundo lá fora não as queriam como eram.

Mas o vento do avivamento está a soprar, rompendo as estruturas do colonialismo europeu que profanou o nome de Deus e sua Criação. Toda e qualquer força opressora que demoniza nossa pele, boca, nariz, cabelo ou biotipo, não é capaz de anular a profundidade do Amor daquele que nos criou; nós continuaremos a existir persistentemente, tomando posse das promessas do Pai sendo como somos e expressando sua magnitude através do nosso corpo, nossa dança e voz.

Somos verdadeiramente livres em Cristo, liberdade essa concedida pelo Espírito que nos leva a adorar ao Pai pela sua diversidade. Espírito esse que também condena aqueles que tentam uniformizar a criação e perpetuar sua hegemonia.

Seguimos numa estrada aberta em lágrimas e transformaremos esse pranto em riso. E que esse riso possa ser encontrado farto no rosto das nossas crianças, orgulhosas de quem são e de onde vieram.

Estamos aqui e seguiremos vivendo plenamente na forma que o Criador sonhou que vivêssemos, pois eu sei que “tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe. Graças te dou, visto que de modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem.” ‭‭Salmos‬ ‭139:13–14‬ ‭NAA‬‬.

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